O artigo aborda a produção de relações de saber-poder no âmbito da assistência pré-natal, ao indagar em como são exercidas as diferentes formas de controle sobre os corpos femininos, na trama do poder obstétrico. A partir de um estudo qualitativo, realizado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) cujo foco principal é a ‘saúde materno-infantil’, localizada em um município da região metropolitana no Sul do Brasil, questionamos quais são os dispositivos de poder obstétrico acionados durante a assistência, e como se dão as subjetivações das gestantes em relação a esses dispositivos. Analisamos a centralidade do médico especialista e o modo como é exercido um saber-poder que dociliza os corpos grávidos e produz as cesáreas como via principal de nascimento. Embora as discussões de implementação de políticas públicas, desde os anos 1980, apontem à saúde da mulher no marco dos direitos sexuais e reprodutivos, e as ações de “humanização da assistência pré-natal e ao parto” se vejam contempladas nas diretrizes que guiam as políticas nesse campo, ao mostrar a mulher como “protagonista” das decisões e vivências reprodutivas, os resultados desse estudo demonstram situações de “injustiça epistêmica” no cotidiano dos serviços.