Neste estudo, apresentamos uma análise discursiva da representação do tempo em dois anúncios publicitários de relógios de pulso veiculados em décadas diferentes (1970 e 2000) no Brasil. Com base na Análise de Discurso
francesa (AD), investigamos os processos de produção desses discursos, a constituição e as relações dos sentidos em cada perÃodo. Trabalhamos a hipótese do tempo como um construto discursivo, que além de ser instituÃdo socialmente, tem sua interpretação gerida imaginariamente. O exercÃcio bibliográfico referenciou formas de apreensão e tratamento do tempo (Castoriadis, 1982), seus usos sociais (Harvey, 2000), e de compreender a experiência temporal na contemporaneidade (Castells, 1999). Considerou-se também seu uso disciplinar (Foucault, 2009) e na configuração das relações entre trabalho e lazer (Moreira, 2008), temas envolvidos na estratégia persuasiva dos anúncios. Estes foram analisados em forma de sequências discursivas de referência (Courtine, 2009), articulando retomadas teóricas a pressupostos que embasam os trabalhos da AD (Pêcheux, 1993, 1995; 1997; Pêcheux e Fuchs, 1993; Pêcheux e León, 2011). As análises apontaram para representações do tempo condicionadas por determinações histórico-ideológicas. Em ambos os anúncios, o relógio recebeu um investimento de significação acima da função de cômputo, sendo relacionado à sanção de durações e ritmos, enquanto que os processos discursivos, sustentando vÃnculos entre temporalidades especÃficas e desÃgnios como imperativos econômicos,
construÃram uma identificação da gestão da existência dos sujeitos com saberes pré-estabelecidos.