Em "O Banquete", um dos mais importantes diálogos de Platão, o personagem Alcebíades reivindicando a verdade de seu discurso, diz a certa altura: "não te espantes se, na evocação de minhas lembranças, as enunciar fora da ordem". Esta afirmação, certamente aproveitável pela Psicanálise porque remete à condição de presença do inconsciente na fala, passa pela famosa inversão de Lacan ao cogito cartesiano estabelecida a partir do entendimento de que o sujeito se encontra enredado nas malhas da linguagem: "existo onde não penso!". Tenho em mente este registro no momento em que me deparo com os resultados de pesquisa de opinião sobre o que pensam os jovens de Brasília, levada a cabo pela CODEPLAN -Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central e o Jornal Radical, da Fundação Athos Bulcão. Refiro-me, especificamente aos resultados relativos ao tema "hábitos culturais e consciência política". A considerar os dados estatísticos produzidos neste tópico, são pelo menos medíocres os interesses culturais e baixos os níveis de consciência política dos jovens brasilienses. Uma matéria do X-Tudo, suplemento dedicado à juventude editado pelo mais influente jornal da Capital Federal, tomou os resultados da pesquisa e concluiu: "a juventude só lê — e mal— - os livros obrigatórios exigidos pelos professores, é viciada em televisão, quase não lê jornais, praticamente nunca vai ao cinema, confia cegamente na família, não quer saber de política (políticos, sindicatos, partidos), não vai ao teatro, só vê filmes de ação no cinema, é roqueira, exige diálogo na família, e sonha em curtir a vida, ter poucas responsabilidades, dinheiro e, principalmente liberdade".