Ao iniciar a análise da Bíblia, procurando algum trecho a partir do qual fosse possível fazer considerações inte-ressantes utilizando-se da Sociologia Jurídica, estava à procura de algo que levasse à discussão sobre novos sujeitos, ou novos direitos. Mas ao ler alguns trechos percebi que um outro assunto poderia ser interessante ao abordar juridicamente a Bíblia: o acesso à justiça. Em diversas passagens percebemos como Deus está distante de seus fiéis, como suas leis são complicadas, de difícil entendimento, como suas leis não podem ser contestadas e, até mesmo, como os templos feitos para tentar aproximar Deus de seus filhos são lugares de decoração rebuscada que se choca com a vida simples levada pela maioria da população da época. Logo no início do Livro Sagrado percebemos como Deus é a única fonte normativa e como os seus julgamentos não podem ser contestados, tendo a sanção aplicação imediata. Em Gn 3.14, Deus julga a serpente e lhe aplica uma pena imediatamente, sem que ela pudesse discordar ou se defender. Assim ocorre nos versículos seguintes com os julgamentos de Adão e de Eva. Percebemos aqui, como em diversas partes da Bíblia, como o monismo está presente, como se fosse lei a ser obedecida apenas aquela vinda do Estado e que não pudesse ser contestada. O que Deus ("o Estado") falou é lei, e o não cumprimento dessa lei acarreta uma sanção (pena) imediata. Percebemos diversas vezes como o monismo está presente: todas as decisões são tomadas por Deus, não há consulta a nenhum dos "mortais" e apenas a sua lei é a lei válida.