O poema “Traduzir-seâ€, de Ferreira Gullar, pode ser tomado como exercÃcio lÃrico-existencial, cuja elaboração estética articula metáforas sintomáticas de uma subjetividade cindida. A economia estética do poema ensaia uma arquitetura do desejo em “traduzir-seâ€, que manifesta a perplexidade do sujeito lÃrico diante do descentramento dessa experiência de “vertigem†e põe em suspeição sua tradução possÃvel como arte. Neste artigo, apostamos em uma interpretação que considera rentável uma aproximação entre literatura e alguns pressupostos da psicanálise e da teoria e crÃtica de poesia, a fim de lançar um horizonte de compreensão sobre a emblemática poesia de Ferreira Gullar. O poema alude a uma autorreferencialidade do eu lÃrico e de suas marcas narcÃsicas, delineia um horizonte de ordem intersubjetiva, no qual se vislumbra um potencial alteritário do sujeito lÃrico, a emergência de uma subjetividade que se prenuncia hÃbrida, conflituosa: o eu poemático é gestado e ganha contornos existenciais num drama de linguagem. Uma “tradução†sempre contemporânea.