Este artigo discorre sobre enfoques acerca da leitura que atravessam e constituem
discursos correntes sobre essa prática social e seus significados, portanto influentes
nos modos como se focalizam objetos e nas análises tecidas em pesquisas sobre
letramentos (STREET, 1984; KLEIMAN, 1995; BARTON; HAMILTON;
IVANIC 2000; GEE, 2000, 2004). A matriz epistemológica assumida compreende
a leitura como prática cultural produzida nas/pelas relações entre grupos humanos,
em tempos e espaços sociais especÃficos, sendo, portanto, variável. Como tal, é
perpassada por fenômenos que trazem em seu bojo a necessidade da leitura como
prática cultural desejável: o da legitimidade (de crenças coletivas que edificaram a
leitura como prática necessária) e o da desigualdade, que diz respeito à distribuição
de oportunidades de acesso, à difusão de práticas, competências e objetos
(LAHIRE, 2002, 2006). Abordar tais discursos correntes e os enfoques a eles
correspondentes permite, por um lado, compreender em que bases os discursos
da tradição e do cânone foram produzidos e converteram-se em divisores de águas
capazes de distinguir grupos e pessoas, de definir o que conta, o que tem valor, de
escalonar e classificar leitores e leituras e, de outro, organizar planos a partir dos
quais se pode examinar as práticas de leitura, os sentidos e significados atribuÃdos
a esse fazer e os artefatos culturais acessados pelos sujeitos envolvidos.