A sociologia da infância (doravante, SI) procura reafirmar que as crianças devem ser percebidas como atores sociais, sujeitos de direitos e cocriadores de sua cultura. É possível fazer isso a partir de várias linguagens e narrativas, tanto na realidade das escolas e das ruas quanto na ficção dos contos e do cinema, como na obra “Os incompreendidos” de François Truffaut (1932-1984). O método utilizado foi o uso de filmes documentais e/ou de ficção como instrumento de problematização, com o intuito de fazer reflexões sobre o filme à luz dos conhecimentos da SI, realizando incursões sobre os papéis da escola e da família, consideradas agências socializadoras da infância. Após o levantamento bibliográfico acima, permite-se a possibilidade de que este ensaio possa contribuir de forma inédita para a discussão do tema da SI, a partir das reflexões interligadas entre a teoria dela a partir dos elementos fílmicos de Truffaut, particularmente da película “Os incompreendidos”, de 1959. O olhar constante de que as crianças são o futuro retira-lhes qualquer possibilidade de viverem o hoje, de ativarem seu papel e de se conectarem efetivamente com seu tempo. Em “Os incompreendidos”, percebe-se o incômodo que Truffaut demonstra com a educação escolar e com o papel da família, denunciando a indiferença que o mundo adulto apresenta em relação às crianças. Unido ao desejo de escapar do convencionalismo tanto estético como temático, Truffaut contribui para enfrentar a visão dessubjetivada da infância e como mais um apoio para a crítica ao modelo sobre que ora se outorga como dominante: o modelo escolar adultocêntrico.
The sociology of childhood (hereafter, SI) seeks to reaffirm that children should be perceived as social actors, subjects of rights and co-creators of their culture. It is possible to do this using various languages and narratives, such as in the reality of schools and the streets, or in the fiction of short stories and cinema, as in the work “The 400 Blows” by François Truffaut (1932-1984). The method used was the use of documentary and/ or fiction films as a questioning instrument, and to reflect on the film in the light of IS knowledge, making incursions on the roles of school and family, considered childhood socialising agencies. After the bibliographic survey above, the possibility is allowed that this essay may contribute in an unprecedented way to the discussion of the theme, based on the interconnected reflections between its theory and Truffaut’s filmic elements, particularly the film “The Misunderstood”, from 1959. The constant gaze which sees the children as the future deprives them of any possibility of living the today, of activating their role and effectively connecting with their time. In “The 400 Blows”, one can see Truffaut’s discomfort with school education and the role of the family, denouncing the indifference that the adult world shows towards children. Together with the desire to escape both aesthetic and thematic conventionalism, Truffaut contributes to confronting the desubjectivised view of childhood and as one more support for the critique of the model that is now considered dominant: the adult-centered school model.