A filosofia identifica-se com um saber crítico de superação do senso comum. Assim, podem causar estranhamento os inúmeros silenciamentos e invisibilizações operados pela tradição filosófica ocidental e disseminados por seu ensino. A filosofia segue uma longa trajetória histórica de exclusões de gênero, grupos étnicos, localidades geográficas. Estas práticas são produto da colonialidade de saberes e poderes, imbricados com a colonialidade do ser, que nega existência às subjetividades historicamente objetificadas sob eixos de opressão como raça, gênero, classe, sexualidade. O objetivo deste escrito é propor o reconhecimento desta violência do cânone filosófico como prática epistemicida, em especial no que se refere ao recorte de gênero e sua relação com a colonialidade. A história dessa exclusão, ao negar existência epistêmica a outras matrizes de produção filosófica, retirando seus lugares de fala, deslegitima saberes e ratifica um padrão hegemônico eurocentrado. Adota-se aqui a interlocução com algumas filósofas, em especial latino-americanas, a fim de evidenciar a violência com que opera o cânone filosófico, responsável pelo epistemicídio de mulheres, africanos, lationamericanos, indígenas. Este escrito valoriza práticas educativas descolonizadoras, que tensionem o cânone filosófico, como potentes para abrir fissuras e inscrever reexistências, no campo das micro-resistências localizadas.