O presente artigo tem como objetivo mostrar que Borges convida o leitor a
mergulhar, em alguns de seus textos, em uma complexa e instigante história acerca da
formação da nacionalidade na Região do Prata durante o século XIX. Nessa história, podemos
encontrar o debate entre duas visões que prevaleceram na literatura argentina na segunda
metade do século retrasado: a “interpretação da barbárieâ€, de Domingo Faustino Sarmiento,
em seu Facundo o Civilización y Barbarie e a “denúncia da exploraçãoâ€, de José Hernández
em seu poema El Gaucho Martin Fierro. Nesse debate, Borges procura caracterizar o gaucho,
aquele que teria sido assimilado ou desaparecido no processo de consolidação da cidade de
Buenos Aires como centro polÃtico e econômico da região. Podemos também encontrar um
Borges contraditório. Se por um lado ele defende a civilização, por outro se vê fascinado pelo
autêntico, por um ser não necessariamente civilizado. Estaria Borges preocupado em mostrar
sua contradição? Essa talvez seja uma pergunta menor. Mais importante aqui é o método, o
que une a história e a literatura.