O objetivo deste artigo é analisar a guerra comercial a partir da discussão
sobre o déficit comercial sob as perspectivas dos Estados Unidos e
da China, visando a avançar no debate ao caracterizar a natureza
tecnológica da disputa, e como ela se deu dentro da estrutura da ordem
liberal internacional, através da Organização Mundial do Comércio. A
análise será feita, do ponto de vista teórico, com base no conceito de
geoeconomia, que consiste no uso de instrumentos econômicos no
nível internacional, tais como política comercial, investimento externo,
sanções econômicas, entre outros, com a finalidade de atingir objetivos
geopolíticos. A metodologia de pesquisa utilizada foi qualitativa,
principalmente, com suporte pesquisa quantitativa: a parte qualitativa
foi feita a partir da análise de documentos oficiais dos governos da China
e dos Estados Unidos, em combinação com literatura especializada
sobre o tema; a parte quantitativa, a partir de dados do Banco Mundial,
da Organização Mundial do Comércio (OMC), do United States Census
Bureau (Census) e da American Association for the Advancement
of Science (AAAS), relativos a comércio e investimento da China e
dos Estados Unidos no período analisado. O principal resultado da
pesquisa foi constatar que a disputa comercial sino-americana não se
limita à esfera do comércio, mas sim está relacionada ao contexto maior
de disputa geopolítica entre os dois países, na qual a corrida tecnológica
tem papel central. A conclusão é que se trata de uma guerra comercial-
tecnológica deflagrada pelos Estados Unidos com o objetivo de conter
os avanços tecnológicos chineses, que vem catalisando seu crescimento
econômico e seu poder militar.