O habitus da Arquivologia deriva da noção de habitus de Bourdieu (2009), a qual preconiza que este é uma combinação de aspectos sociais, históricos, políticos e institucionais nas relações entre o campo e o capital científicos. Apropriados à Arquivologia, o habitus configura-se pelas heranças teóricas, calcadas no Princípio da Proveniência e comunicadas por autores que contribuíram para os saberes arquivísticos. Entendemos que o habitus da Arquivologia pode ser compreendido a partir das biografias dos autores de manuais da área, selecionados da literatura arquivística internacional, por sua vez analisada pelo Método da História Cruzada que propõe uma análise relacional dos percursos histórico-epistemológicos de uma disciplina científica, conforme os seus fundamentos. Fragmentos dessas histórias, registrados em suas biografias, nos permitiram visualizar os contextos sociais, as formações/titulações, alguns traços de personalidade, suas redes de sociabilidade seus diálogos e seus (des)encontros, entre alianças, conflitos e interesses, em busca de reconhecimento, financiamento, posições e cargos melhores e prestígio pessoal. A tríade campo, capital e habitus da Arquivologia é demarcada por fatos históricos (Guerras Mundiais, a Revolução Francesa e a Industrial). Esses marcos impulsionaram os autores a pensarem em soluções inovadoras, culminando em avanços que se refletiram na compreensão da organicidade como essência dos documentos de arquivo. Ao analisarmos o conteúdo dos manuais e a biografia dos seus autores, as opções teóricas da Arquivologia não aconteceram ao acaso, mas condicionadas por contextos e acontecimentos históricos e relacionadas às histórias dos próprios autores nos movimentos de transcendência da ciência.