Quem pode falar pelo Estado? Apesar de o substantivo diplomata ser comum a dois gêneros, não se atribui à diplomacia características consideradas “femininas”, tampouco a própria figura de uma mulher. O presente artigo tem como objetivo contribuir com a discussão no campo da participação das mulheres no funcionalismo público, no âmbito da burocracia de alto escalão, mais especificamente a carreira diplomática. A principal questão diz respeito ao que está por trás das desigualdades estruturais e estruturantes no Ministério das Relações Exteriores (MRE) e no Instituto Rio Branco (Itamaraty), partindo do gênero como lente observamos (i) o histórico do ingresso de mulheres na carreira desde o Brasil republicano; (ii) as práticas que constituem o habitus e o ethos diplomático desde a formação no Itamaraty até a chegada ao MRE; e (iii) o contrato racial‐sexual que circunscreve as práticas de dominação na instituição.
Who can speak for the State? Although diplomat is a noun common to both genders, diplomacy is not attributed towhat is considered as “feminine” characteristics, nor even with the figure of a woman herself. This article aims to contribute to the discussion in the field of women’s participation in public service, focusing on high-level bureaucracy –more precisely, the diplomatic career. The main question here concerns what lies behind the structural and structuring inequalities in the Ministry of Foreign Affairs (MRE) and the Rio Branco Institute (Itamaraty), using gender as an analytical lens –but, of course, not disregarding issues of race and sexuality. To this end, we observed (i) the history of women entering the career since republican Brazil; (ii) the practices that constitute the diplomatic habitus and ethos from the training at Itamaraty to the arrival at the Ministryand (iii) the racial-sexual contract that circumscribesthe practices of domination in the institution.