Cora Coralina foi levada à escola aos cinco anos de idade e cursou somente dois anos escolares. No entanto, seus “pruridos literários, os primeiros escritinhos” (CORALINA, 1984) a partir dos seus 14 anos compuseram uma obra repleta de marcas memorialísticas, autobiográficas e gastronômicas. Por força dos costumes da época, segundo os quais a mulher letrada, afeita à escrita, não dava boa dona de casa, Coralina viu-se impedida de continuar seus estudos, sendo encerrada no lar para o adestramento necessário e o proveito como mão de obra doméstica. O presente artigo pretende analisar a formação da poeta como leitora[1]que, impulsionada por sua curiosidade, buscou nas revistas da mãe, nos calendários da casa, nos jornais impressos das cidades onde morou e para os quais escreveu, no secretariado voluntário ao marido advogado, no apoio às tarefas dos filhos e na livraria em que trabalhou, o aprendizado da língua portuguesa escrita e falada, tendo no autodidatismo o recurso libertador daquela mente fervilhante de versos e contos. Buscar-se-á aprimorar a análise de alguns textos da poeta com as proposições de François Bresson sobre a leitura e suas dificuldades, as reflexões de Jean Hébrard sobre o autodidatismo, a visão para além do escrito de Eliana Yunes.