Este artigo exploratório propõe um modelo trifásico para compreender a trajetória da desinformação em plataformas digitais: criação, disseminação e recirculação. A partir de revisão de literatura, análise exploratória de casos e contribuições teóricas contemporâneas, argumenta-se que a recirculação – tradicionalmente marginalizada nas análises – constitui um estágio estruturante da longevidade e adaptabilidade da desinformação. Baseado no redirecionamento do conceito de recirculação originalmente formulado por Zago, o estudo evidencia como conteúdos desinformativos são reformulados, emocionalmente ressignificados e continuamente reintroduzidos em circuitos comunicacionais digitais. Algoritmos de recomendação, práticas culturais de compartilhamento e a erosão da autoridade epistêmica das instituições tradicionais compõem um ecossistema que favorece a persistência simbólica da falsidade. Argumenta-se que a recirculação não apenas amplia o alcance da desinformação, mas a transforma em artefato discursivo dinâmico, resistente a estratégias convencionais de checagem. Conclui-se que o enfrentamento da desinformação exige abordagens sistêmicas, capazes de considerar sua circulação prolongada, natureza performativa e capacidade de adaptação contextual.
This article proposes a three-phase model to understand the trajectory of disinformation on digital platforms: creation, dissemination, and recirculation. Drawing from literature review, case analyses, and contemporary theoretical frameworks, the study argues that recirculation – often overlooked – plays a structural role in the endurance and adaptability of disinformation. By redirecting Zago’s concept of recirculation, originally formulated within digital journalism, this paper shows how false content is reframed, emotionally re-signified, and persistently reintroduced into digital communication flows. Recommendation algorithms, sharing cultures, and the erosion of epistemic authority of traditional institutions contribute to an ecosystem that legitimizes informational falsehoods. Recirculation not only extends the reach of disinformation but transforms it into a dynamic discursive artifact, resistant to conventional fact-checking. The study concludes that tackling disinformation requires systemic approaches capable of addressing its performative, context-adaptive, and prolonged circulation dynamics.