Resumo Português:
O trabalho parte da análise de Roberto Schwarz sobre o mal-estar - originalmente identificado por Silvio Romero – na cultura brasileira a fim de demonstrar ser este resultante não de questões raciais, mas de vicissitudes da estrutura social do país, que comporta enorme desigualdade entre as classes. Em seguida, examina a permanência desse mal-estar realçando como tal desigualdade acarretou também a desigualdade cultural; ao mesmo tempo identifica as várias tentativas, historicamente situadas, de superá-lo. Nessa direção, destaca a mudança da “consciência amena do atraso” para a “consciência catastrófica do atraso”, apontada por Antonio Candido, vinculando a essa última a formação de uma consciência sobre o caráter subdesenvolvido do país e identificando criticamente os esforços desenvolvimentistas – sob o enfoque fornecido pela Teoria da Dependência – para superar tal condição. Nesse movimento analítico, o ensaio procura também conectar tal esforço com os movimentos culturais verificados especialmente na literatura brasileira e, em alguns casos, no cinema – sempre destacando a dificuldade das camadas populares de terem acesso à produção cultural mais significativa. Por fim, examina como o Estado Exterminista instalado no país após 1968 soterrou – ou dificultou enormemente – os esforços para superar tal mal-estar e condenou a maioria da população a consumir apenas aquilo que Adorno chamou de “semicultura”. O trabalho termina questionando quais rumos seriam hoje possíveis para a produção cultural desejosa de voltar a enfrentar o problema.
Resumo Inglês:
Starting from Roberto Schwarz's analysis of malaise in Brazilian culture, the work shows that it results not from racial issues, but from vicissitudes of the Brazilian social structure, which entails enormous inequality between classes. The essay examines the permanence of this malaise in the country, highlighting how this inequality generates cultural inequality and analyzing several historically situated attempts to overcome it; and highlights the shift from the "soft conscience of backwardness" to the "catastrophic consciousness of backwardness", pointed out by Antonio Candido. In this analytical movement, the essay also tries to connect this effort with the cultural movements verified especially in the Brazilian literature and, in some cases, in the cinema. The essay ends by questioning what directions would be possible today for cultural production desirous of facing the problem again.