“Tabu” é um filme que trata de dois momentos de uma única história. Mas, como sabemos, e o filme em questão é eficaz em mostrar isto, nunca há uma única história. Há
várias. História(s) sobre amor, traição e relações sociais assimétricas, que se passa(m), a um só tempo, na Lisboa contemporânea e numa “África portuguesa” de outrora (às vésperas da
deflagração da “Guerra do Ultramar”, que durou entre os anos de 1961 até 1974, entre Portugal e suas colônias africanas do século XX). Grosso modo, o enredo nos fa la sobre a passagem do tempo, de perdas e de dilemas pessoais e coletivos; valendo - se de um tema clássico, os meandros do amor - traição, tece uma série de comentários que nos remete à história colonial do capitalismo tardio português; às relações étnicas, é ticas e políticas entre diferentes coletividades; à reflexão estético cinematográfica e, por fim, a uma reflexão a respeito da representação, da reminiscência e da produção de imagens. Redunda, no fim, em um longa que faz uma leitura a contrapelo do colonialismo, dos crimes de Estado e da herança histórica de Portugal, por meio de alegorias que transitam entre sutilezas e construções assertivas, entre amores e tabus em África.