Sintomas da inflexão melancólica que domina as artes da memória no fim do século XX, as narrativas do escritor alemão W. G Sebald se assemelham a um registro inesgotável das devasta-ções causadas ou sofridas pela espécie humana. Nenhum progresso, senão no aperfeiçoamento das ferramentas de destruição; nenhum sentido, exceto no eterno retorno do desastre que faz do infortúnio a característica de uma “espécie desesperada”. Mas o quão é bom exumar os traços das vítimas da história se é impossível esperar acabar com a violência por elas sofri-da? Por que ressuscitar os oprimidos cuja história apenas repete a derrota irreparável? Examinando o diálogo continuo entre a obra de Sebald e as teses “sobre o conceito de história” (1940), de Walter Benjamin, este artigo demonstra os riscos de despolitização de uma filosofia fundada no valor re-volucionário da memória dos vencidos e tenta, portanto, esclarecer a tensão entre ética e política que atravessa um grande número de produções memo-riais contemporâneas.
Symptoms of the melancholic inflection that dominates memory arts in the late twentieth century, German writer W. G Sebald’s narratives are similar to an ine-xhaustible record of devastation caused or endured by the human race. No progress, but improvement of the tools of destruc-tion; no sense, except in eternal return of the disaster that makes misfortune the characteristic of a “desperate species.” But why exhumethe traces of history victims if it is impossible to hope put an end to the violence they endured? Why resuscitate the oppressed whose history only repeats their irreparable defeat? Looking at the continuous dialogue between Sebald’s work and Walter Benjamin’s theses “On the concept of history” (1940), this article demonstrates the risks of depoliticization of a philosophy rooted on the revolutionary value of the memory of the vanquished, and thus attempts to clarify the tension between ethics and politics that underlies a great number of contemporary memorial productions