No ano de 2004, encontraram-se em Munique dois importantes pensadores contemporâneos: Joseph Ratzinger e Jürgen Habermas. Representantes de posições bastante distintas, eles protagonizaram um evento intelectual de altíssimo nível e de grande repercussão. O diálogo entre eles girou em torno do tema da necessidade, ou não, de o Estado liberal se apoiar em pressupostos normativos pré-políticos para garantir a defesa da dignidade e a criação de vínculos de solidariedade entre os cidadãos. A investigação a respeito do tema conduziu ambos os alemães a colocarem a questão a respeito da relação entre a razão e a religião. O debate deu origem a múltiplos estudos posteriores. O objetivo do presente artigo é contribuir com esses estudos. Procuraremos mostrar que a divergência entre Habermas e Ratzinger é bastante profunda porque eles se apoiam em concepções distintas de razão. O artigo encontra-se dividido em três partes. Na primeira, serão explicitados os elementos centrais do debate que aconteceu em Munique. Em seguida, acentuar-se-á a oposição entre Ratzinger e Habermas. Finalmente, aprofundar-se-á a questão da relação entre razão e religião, acentuando de que maneira cada um deles compreende a razão. O artigo nos conduzirá a identificar a razão como elemento fundamental a partir do qual é possível pensar os dois alemães como antípodas intelectuais.