A literatura fantástica, nascida na Alemanha e divulgada a partir dos contistas franceses, ressoa na literatura brasileira, sobretudo, em realistas com Machado de Assis, que adentra na cultura francesa, conduzindo o leitor a apreciar a literatura do país de Molière. Quando nos debruçamos sobre a obra machadiana, encontramos muitas referências à literatura francesa, tal como se pode ver em dois de seus contos: A vida eterna (1870) e Um sonho e outro sonho (1892), que trazem a temática do fantástico pelos caminhos do mundo onírico. Neste artigo, buscamos cotejar os referidos contos de Machado de Assis e obra de Charles Nodier, considerado o iniciador do conto fantástico na França. Destacamos, neste estudo, o conto Smarra ou les démons de la nuit (1821), por apresentar uma narrativa descontínua e cheia de digressões, sob a perspectiva do fantástico de Todorov (1971), bem como no próprio Nodier (1832) que, além de ficcionista, foi um dos primeiros a apresentar reflexões sobre o fantástico na literatura. Buscamos também em Pinheiro-Passos (1996a; 1996b; 2006) pontos de convergência entre a literatura francesa e a obra machadiana. A leitura dos contos nos revelou um intenso diálogo entre os textos, especialmente, quanto ao sonho, enquanto ambiente próprio do fantástico.