O recente processo deimpeachmentda presidenta Dilma Rousseff e a tomada presidencial de Michel Temer, em 2016, não foi consenso entre os brasileiros. Participando cotidianamente do debate político marcado por forte estigmatizações sociais, por vezes, tratávamos e tratamos o outro como um rival. Neste ambiente polarizado, muitas vezes, a estratégia dos sujeitos foi de ridicularizar, excluir e/ou negar o outro. Nesse sentido, este artigo é um esforço em compreender este período de atropelamentos políticos que estamos vivenciando e sentindo no cotidiano quando dentro da família temos que conviver com um “grande contrário” em tempos de crise; em revelar um conflito latente com aqueles que amamos e que esse cenário de crise não poupou. Partimos de experiências e dos relatos cotidianos para entender essas tensões políticas com tonalidades autoritárias que se acomodaram no ambiente familiar quando hostilidade e amor, enfim, se confundiram. Destacamos, ainda, as assimetrias de gênero no seio e no conflito familiar em que os estereótipos emergem do conflito político, para pensar como a negação do outro, ao mesmo tempo em que pode representar o salvamento de si, não o faz sem causar sofrimento no deslocamento e na suspensão destatus na cédula familiar.