O meu ingresso na Universidade de Brasília, em 1963, no Curso de Direito, constituiu-se numa oportunidade de realização do sonho de cursar o ensino superior. A UnB, em seus primórdios, nos idos de 63 e até muito depois da conclusão do meu curso em 1967, passou por momentos que calaram fundo na alma brasileira e, notadamente, no irrequieto espírito da juventude estudantil. Naquele tempo a UnB era um verdadeiro mosaico de idéias e ideologias políticas, razão pela qual ela foi um dos principais alvos da repressão militar que eclodiu com a chamada Revolução de março de 64, quando assistimos a uma série de eventos voltados para o enquadramento da UnB aos princípios esposados pelo movimento militar. A tomada do campus pelas tropas, a demissão em massa de notáveis e queridos professores, a prisão de colegas e mestres, a intervenção governamental nos negócios internos da instituição, ferindo a autonomia universitária, a infiltração de elementos estranhos aos quadros universitários objetivando a prisão de pessoas tidas como esquerdistas, a delação como método para a entrega de professores e alunos aos inquisidores militares, o fechamento do Congresso Nacional, a cassação de mandatos eletivos e de direitos políticos, tudo isto foi o pano de fundo que perpassou por nossa experiência acadêmica. Sendo um dos dirigentes do Centro Acadêmico 21 de Abril – o CAVUA –, capitaneado por Saint-Clair Martins Souto, participamos de inúmeras passeatas e manifestações contra o estado de coisas acima debuxado, lutando contra forças poderosíssimas, em defesa da liberdade e da plena autonomia da Universidade de Brasília.