Na cidade, todos veem. Na cidade, todos são vistos. O olhar e seus desdobramentos – o que ver, como ver, a interpretação do que é visto – é uma das questões centrais do espaço urbano desde o século XIX, com o crescimento das cidades e o surgimento de algo até então inédito: o fenômeno da multidão. O olhar torna-se, portanto, crucial a esse homem urbano, que procura reconhecer nesse outro – o desconhecido – os sinais de amistosidade ou perigo. Esta importância da dualidade do olhar na cidade é aqui investigada através de dois filmes: Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock (1954), e Caché, de Michael Haneke (2005). No primeiro, os personagens olham para a cidade. No outro, são vistos por ela. Nas duas pelÃculas, temos as pontas do mesmo processo: a espetacularização da sociedade. No meio, o cinema, desempenhando um de seus principais papéis: a construção de representações das vidas humanas na cidade.
In the city, all people see. In the city, all people are seen. The look and its related questions – what to see, as to see, the interpretation of what is seen – Is one of the central questions of the urban space since century XIX, with the growth of the cities and the phenomenon of the multitude. The look becomes, therefore, crucial to this urban man, whom it looks to recognize in this another one – the stranger – the signals of friendship or danger. This importance of the look in the city is investigated in this essay through two films: Rear window, Alfred Hitchcock (1954), and Caché, Michael Haneke (2005). In the first movie, the personages look the city. In the other, they are seen by this city. In the two films, we have the extremities of the same process: the social life transformed into spectacle. And the cinema, playing one of its main functions: the construction of representations of the human lives in the city.