Este artigo examina alguns aspectos da minha recente pesquisa interdisciplinar em fenomenologia do som e composição musical, a qual explora questões filosóficas, culturais, sociais e políticas, e estabelece um diálogo subjetivo e multipolar com a tecnologia. As novas formas de escuta mediadas tecnologicamente, os novos processos de produção, manipulação e transformação do som ocupam nossos espaços físicos e existenciais. Wittgenstein sugere que o som é apenas a superfície da música e que a obra musical esconde algo mais profundo que dificilmente pode ser descrito por modelos lógico-filosóficos ou teorias científicas. Como ilustração do meu trabalho de composição, discuto algumas ideias da minha obra A Geladeira (2014), oratório digital que tematiza a minha experiência de tortura durante a ditadura militar no Brasil e reflete sobre o conceito de absurdo da filosofia existencial de Camus. A fenomenologia da consciência do tempo de Husserl respalda minha pesquisa em fenomenologia do som focada na música eletroacústica. Com base nas discussões de Kuhn, introduzo a ideia um paradigma eletroacústico como matriz disciplinar da música contemporânea. Examino o conceito de aparelho, sob os pontos de vista de Agamben e Flusser, como uma noção chave para se compreender a atual fase do capitalismo e as estruturas de comunicação e criatividade da sociedade cibernética. Finalmente, discuto a visão de que a verdade é a essência da arte, a partir de Heidegger. A arte nos ajuda a desenvolver uma nova compreensão do ser, que se distancia da experiência estética moderna de um objeto de arte para uma abordagem pós-moderna da obra de arte. A universidade é um ambiente privilegiado para observar conexões interdisciplinares entre disciplinas artísticas e as interseções entre arte, tecnologia e sociedade, superando a interpretação e disseminação de conhecimentos científicos e humanísticos e oferecendo múltiplas perspectivas para o avanço da pesquisa e do pensamento crítico.
This article examines some aspects my recent interdisciplinary research on sound phenomenology and musical composition, which explores philosophical, cultural, social, and political issues and engage a subjective and multipolar dialog with technology. New forms of technologically mediated listening, new processes of producing, manipulating, and transforming sound shape our lives and occupy our physical and existential living spaces. Wittgenstein suggests that sound is only the surface of music and that the musical work conceals something more profound that can hardly be described by logical-philosophical models or scientific theories. As an illustration of my compositional work, I discuss some ideas of my work The Refrigerator (2014), digital oratorio that thematizes my experience of torture during the military dictatorship in Brazil and reflects on Camus existential philosophical concept of absurdity. Husserl’s phenomenology of time consciousness supports my research on sound phenomenology focused on electroacoustic music. Based on Kuhn’s concept of scientific paradigm, I draft the idea of an electroacoustic paradigm as disciplinary matrix of contemporary music. I examine the concept of apparatus from the points of view of Agamben and Flusser as a key notion for understanding the current phase of capitalism and the structures of communication and creativity of the cybernetic society. Finally, I discuss Heidegger’s view of truth as the essence of art. Art help us to develop a new understanding of the being that moves from a modern aesthetic experience of an art object to a post-modern approach to the work of art. The university is a privileged environment to observe interdisciplinary connections between artistic disciplines and the intersections between art, technology, and society. The university’s role is not only to interpret and spread scientific and humanistic knowledge but to embrace cultural diversity by offering multiple perspectives for advancing research and critical thinking.