Relações entre religião e identidade negra em adolescentes candomblecistas de Olinda-PE

Revista de Extensão da Universidade de Pernambuco (REUPE)

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ISSN: 2675-2328
Editor Chefe: Maria Beatriz Araújo Silva
Início Publicação: 01/06/2015
Periodicidade: Bianual
Área de Estudo: Multidisciplinar, Área de Estudo: Multidisciplinar

Relações entre religião e identidade negra em adolescentes candomblecistas de Olinda-PE

Ano: 2021 | Volume: 6 | Número: Suplemento
Autores: Douglas Batista de Oliveira, Simonelly Ferreira Vilela, Kalina Vanderlei Silva
Autor Correspondente: Douglas Batista de Oliveira | dougbatista.oliver@gmail.com

Palavras-chave: Adolescente; Origem étnica e saúde; Grupo com Ancestrais do Continente Africano

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Introdução:Durante a adolescência, as buscas pela formação de uma identidade e associações com grupos ganham destacada relevância. O desenvolvimento desses processos é orientado pelas intersecções de diferentes marcadores sociais que classificam os adolescentes, como gênero, raça, classe social, religião, dentre outros. O candomblé, enquanto religião afro-brasileira, tem profunda associação com os povos de origem africana e, inicialmente, era cultuado apenas por brasileiros descendentes de africanos. Embora a população adepta dessa religião não seja mais exclusivamente afrodescendente, as origens do candomblé mantêm profunda ligação da religião com os negros, podendo fortalecer as relações existentes entre as identidades religiosa e étnico-racial dos seus praticantes,especialmente os adolescentes. Objetivo:compreender como os adolescentes candomblecistas do município de Olinda (PE) identificam e representam a própria raça e quais as influências da religião sobre esses processos. Percurso Metodológico:pesquisa de campo de abordagem qualitativa e natureza interdisciplinar realizada através de observações participantes em dois terreiros de candomblé do município de Olinda e entrevistas semiestruturadas individuais com dez adolescentes candomblecistas quefrequentavam os referidos terreiros. A análise dos dados obtidos durante a coleta foi orientada pelas contribuições da Análise do Discurso e da Teoria das Representações Sociais. Resultados:Nas entrevistas, ao serem questionados sobre a forma como se identificavam em relação a própria cor ou raça, 9 adolescentes se definiram como negros e apenas 1 como pardo. Uma parcela dos entrevistados argumentou que se definia como negro por conta de seus atributos fisionômicos, enquanto outra fração apontou que aspectos culturais, como a própria filiação ao candomblé, determinavam sua identidade negra. As representações destes últimos, no entanto, entravam em conflito com outras representações existentes no grupo religioso, no qual a cor de pele preta era, por vezes, apontada como um traço determinante para a validação da identificação enquanto negro e reconhecida como uma característica essencial para um praticante do candomblé, o que comprometia a inserção de alguns adolescentes no grupo. Dessa forma, foi possível verificar que o grupo religioso pode ter sido um dos determinantes da majoritária autoafirmação dos participantes como negros por estimular ou, em alguns casos, exigir de seus membros tal identificação. Considerações finais:Ao aclamar a identidade negra em referência aos povos que o originaram, o candomblé favorece a predominância dessa identidade étnico-racial entre seus adeptos. Se, por um lado, o grupo religioso pode oferecer um importante contraponto às representações hegemônicas que depreciam a identidade negra, por outro lado, também pode erigir barreiras, ainda que informais, que limitam a participação de alguns indivíduos por conta de sua raça ou etnia.



Resumo Inglês:

Introduction:During adolescence, the search for the formation of an identity and associations with groups gain prominence. The development of these processes is guided by the intersections of different social markers that classify adolescents, such as gender, race, social class, religion, among others. Candomblé, as an Afro-Brazilian religion, has a deep association with peoples of African origin and was initially worshiped only by Brazilians of African descent. Although the population adhering tothis religion is no longer exclusively Afro-descendant, the origins of Candomblé maintain a deep connection between religion and blacks, which can strengthen the existing relationships between the religious and ethnic-racial identities of its practitioners, especially adolescents. Objective:to understand how Candomblecist adolescents in the municipality of Olinda (PE) identify and represent their own race and what are the influences of religion on these processes. Methodological Path:field research with a qualitative approach and interdisciplinary nature carried out through participant observations in two Candomblé terreiros in the municipality of Olinda and individual semi-structured interviews with ten Candomblecist adolescents who frequented those terreiros. The analysis of the data obtained during the collection was guided by the contributions of Discourse Analysis and Theory of Social Representations. Results:In the interviews, when asked about how they identified themselves in relation to their own color or race, 9 adolescents defined themselves as black and only 1 as brown. A portion of the interviewees argued that they defined themselves as black because of their physiognomic attributes, while another fraction pointed out that cultural aspects, such as candomblé affiliation itself, determined their black identity. The representations of the latter, however, were in conflict with other representations existing in the religious group, in which black skin color was sometimes pointed out as a determining feature for the validation of identification as black and recognized as an essential characteristic for a candomblé practitioner, which compromised the insertion of some teenagers in the group. In this way, it was possible to verify that the religious group may have been one of the determinants of the majority self-affirmation of the participants as black because it stimulates or, in some cases, demands such identification from its members. Final considerations:In acclaiming the black identity in reference to the peoples that originated it, candomblé favors the predominance of this ethnic-racial identity among its followers. If, on the one hand, the religious group can offer an important counterpoint to the hegemonic representations that depreciate black identity, on the other hand, it can also erect barriers, albeit informal, that limit the participation of some individuals due to their race or ethnicity.