A partir do documentário Rua Santa Fé, da chilena Carmen Castillo, e da noção de memória para diferentes pensadores contemporâneos, esse artigo investiga a máquina do cinema documentário como possibilidade de registro e reconhecimento mnemônicos. A memória do trauma e o registro audiovisual da experiência vivida pela cineasta são aqui investigados como ferramentas de reconstituição/reconhecimento da subjetividade. O ponto de partida são as reflexões propostas por Paul Ricoeur em torno das noções de memória e esquecimento. O que se percebe, com esse estudo, é que o cinema documentário, como um arquivo, pode explicitar e compartilhar com os espectadores as marcas impressas no corpo de seu diretor. Além disso, seu processo de produção, ao promover uma relação com a cidade e com os objetos de infância, podem ainda desencadear aquilo que Ricoeur nomeia como o “pequeno milagre da memória feliz”. Tal especificidade marca o documentário Rua Santa Fé e pode estender-se às narrativas de outras produções audiovisuais contemporâneas.