Objetiva-se neste trabalho apresentar algumas considerações sobre o processo criativo de Erico Verissimo, algo bastante significativo em sua produção qualificada como “escrita de siâ€, com foco especial em suas obras – Solo de Clarineta vol. I (1995) e Gato Preto em Campo de Neve (1996). Tal iniciativa justifica-se, pois, ainda que Verissimo não tenha, declaradamente, desejado fazer de sua escrita memorialÃstica e de seus relatos de viagem uma explicação técnica acerca do seu modus operandi, tornando, portanto, parte de sua obra uma metaliteratura, é impossÃvel, através da leitura imanente dos textos apontados anteriormente, desvincular um propósito do outro. Para ressaltar esse vÃnculo, será estabelecido um diálogo entre o corpus escolhido e A Filosofia da Composição (1845) de Edgar Allan Poe, Pós-escrito a O nome da rosa (1985) de Umberto Eco e o Manifesto do surrealismo (1924) de André Breton. Para tal, desenvolver-se-á um percurso que inclui conjecturas sobre a modulação autocrÃtica de Verissimo, onde o autor intervém, frequentemente, com um comentário pessoal sugerindo um sentido particular para sua escrita e clarificando pontos, considerados por ele, de grande importância. Nesse interim, será mostrado seu procedimento artÃstico e intelectual, trazendo-se um apanhado geral com suas construções literárias, tendo por meta apontar uma racionalidade e uma objetividade nos elementos mimetizados. Neste sentido, serão pormenorizados, passo a passo, os processos pelos quais o autor escrevia, demonstrando-se a situação de produção do texto, mas, levando-se em conta que mapear o processo de criação é algo imaginário, tão imaginário quanto criar, um processo regido por uma força misteriosa impossÃvel de analisar e explicar a contento.