A publicação da Revista Diálogos (v. 3, n. 4) apresenta neste primeiro volume de 2013 um intenso diálogo inspirado na obra O Alienista, de Machado de Assis. A obra permite as mais variadas comparações, que longe de parecerem forçadas, revelam-se antes como instrumento extremamente útil de crÃtica atual do status quo, nas mais variadas disciplinas. Com base no texto machadiano, é possÃvel transpor para a Casa de Orates o nosso Direito Processual, nossos Direitos Humanos, nossa PolÃtica, nossos direitos de autor, nosso direito penal, e todos os outros, pois se para alguma área o texto não admite inserção, certamente clarifica mazelas que muitas vezes insistem em uma legitimação “racionalâ€, que na realidade, nos dias de hoje, não mais se justifica. Os textos que seguem esclarecem muito bem essa questão. De um modo ou de outro, todos chegam a atacar os excessos da racionalidade e os perigos de se eleger um padrão “racional†que possa dirigir o “certo†e expulsar o “erradoâ€.
A Revista é lançada em um momento de grande importância histórica para o Brasil. Num momento em que o Brasil resolveu, por meio de grande parte da população, ir para as ruas em todo o paÃs e inclusive no exterior, manifestando seu desagrado por tantas décadas de maus serviços públicos prestados pelos governantes. Vê-se uma gradual e subliminar legitimação da roubalheira, da corrupção, que com o tempo foi, lamentavelmente, tornando-se ostensiva. Foi demais para um povo cansado, sofrido, e que tem sim, quem disse que não, orgulho de ser brasileiro.
Por tudo isso, esta é uma edição que também presta homenagem a um Brasil que se “não acorda porque não estava dormindoâ€, é de todo modo um Brasil que se movimenta, que discute, critica, e que não aceita os “diagnósticos†e remedinhos que sempre foram empurrados de cima para baixo. O Brasil diz “chega!†justamente no momento em que os polÃticos (todos! - desde vereadores, prefeitos, governadores, deputados, senadores e à Presidente) acreditavam que o povo comemoraria com a Copa. Quem diria que o povo iria à s ruas dizer que basta de “pão†(bolsas de todos os tipos) e “circo†(hospitais, e não mais estádios!).
Um hospital, mas não com médicos como o Dr. Simão Bacamarte – e nem um hospital como o que foi proposto pelo personagem de Machado de Assis! Na realidade, o que vemos é um povo gritando para que se coloque todo polÃtico numa Casa de Orates, e que se deixe o povo livre para contar suas mágoas. Livre para construir verdadeiramente seu futuro, livre principalmente de falsos profetas, falsas promessas, falsas imagens, falsas verdades. A presente obra gira, pois, em meio a tais protestos, sobre muitas falsas verdades, que merecem desvelamento.