Esta pesquisa teve como objeto de estudo as abordagens da diferença cultural no currículo de ciências pela pesquisa em educação em ciências, tomando como referência os conceitos de multiculturalismo, de interculturalidade e as perspectivas pós-coloniais. Buscamos artigos que contivessem esses termos no título e/ou no resumo, publicados em quatro periódicos consolidados, cobrindo todo o período de publicação, o que resultou em um total de 33 artigos. Procuramos compreender, a partir do nosso quadro teórico, como os estudos concebem ou analisam abordagens curriculares que envolvem a ciência e outras culturas em função dos objetivos, referenciais teóricos e dos autores mobilizados, destacando como é entendida a relação entre a diversidade cultural e o currículo. Nossa análise permitiu descrever quatro tipos de relação: diálogos harmônicos entre culturas, diálogos interculturais, abordagens críticas da interculturalidade e abordagens pós-estruturalistas da diferença cultural. Pelo número inexpressivo de trabalhos encontrados sobre esses temas, foi possível supor que a pesquisa em educação em ciências ainda privilegia a ciência moderna ocidental como cultura pretensamente universal. O conjunto majoritário e polissêmico de abordagens interculturais mostrou que encontros da ciência com outras culturas enfrentam desafios para o ensino de ciências que são resolvidos de diferentes formas. Quando esse encontro se dá com base em paradigmas pós-estruturalistas, a ciência é colocada em igualdade com perspectivas heterodoxas e soluções precisam ser inventadas. Este exercício pode causar estranhamento e desconforto, mas também pode nos levar a lugares nos quais as relações entre a humanidade e o mundo natural tenham mais chances.
