Descontente com a relação mimética que o cinema de seu tempo mantinha com as estórias que o século XIX fartara-se de contar, Luis Buñuel – em conferência proferida no México em 1958 – defendeu a prática de um cinema que se configurasse como instrumento de poesia. Um cinema no qual as imagens do desejo, os desvios da ordem cronológica, os espaços do sonho, o caráter insólito das coisas ordinárias encontrassem a expressão concreta de sua liberdade. O próprio Buñuel, algumas décadas antes, já havia exercitado esses princípios em filmes como O cão Andaluz e A Idade de Ouro, considerados por Octavio Paz, em ensaio de 1951, como aqueles que “assinalam a primeira irrupção deliberada da poesia na arte cinematográfica”(Paz, 1986, p.83).